A consciência tem o papel de selecionar, filtrar, discriminar e de diferenciar. Sua propriedade discriminatória atua na medida que ela define o que fica na própria consciência e o que vai para a inconsciência. Toda a matéria criativa está armazenada no inconsciente, mas quem é responsável pela ordenação das coisas caóticas é a consciência. (JUNG, 2014, OC9/1 e JUNG, 2015, OC7/1 e OC7/2).
Chamamos o inconsciente de um ¨nada¨ e, no entanto, ele é uma realidade in potentia: o pensamento que pensaremos, a ação que realizaremos e mesmo o destino de que amanhã nos lamentaremos já estão no inconsciente de hoje. O desconhecido que o afeto descobre, sempre esteve aí e mais cedo ou mais tarde se apresentaria à consciência. (JUNG, 2014, OC 9/1, p.278).
A autonomia do inconsciente começa onde se originam as emoções. Estas são reações instintivas, involuntárias que perturbam a ordem racional da consciência com suas irrupções elementares. Os afetos não são feitos através da vontade, mas acontecem. No afeto aparece às vezes um traço de caráter estranho até mesmo à pessoa que o experimenta, ou conteúdos ocultos irrompem involuntariamente. Quanto mais violento for um afeto, tanto mais ele se aproxima do patológico, isto é, daquele estado em que a consciência do eu é posta de lado por conteúdos autônomos, antes inconscientes. (JUNG, 2014, OC 9/1, p.278).
Para Jung os conteúdos do inconsciente pessoal, por um lado apontam para trás em direção a um mundo do pré-consciente e pré-histórico, e por outro antecipa potencialmente um futuro, devido a uma prontidão instintiva dos fatores determinantes do destino. (JUNG, 2014, OC 9/1, p.278).
São também exemplos de conteúdos: não conheço, mas não penso num dado momento; eu tive consciência mas esqueci; foi percebido, mas não registrado; sinto, penso, relembro, desejo e faço involuntariamente e sem atenção; o futuro que se projeta em mim e só mais tarde será conhecido; ¨os impulsos instintivos da infância que não encontraram aplicação na vida adulta, isto é, uma série de desejos egoístas infantis¨ (JUNG, 2014, OC 7/1; p.151).
O inconsciente coletivo, junto com os seus componentes arquetípicos, é, por conseguinte, uma hipótese que possui um enorme significado, pois iria conduzir a psicologia dinâmica para dentro da corrente principal da ciência biológica. Iria estabelecer a continuidade entre a psique humana e o resto da natureza orgânica e atuaria como uma ponte entre a ciência da experiência e a ciência do comportamento. (STEVENS, 1990, p.63).